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Artur Silva em diversas frentes contra o câncer e outras doenças

Especialista em Química Orgânica busca compostos antioxidantes mais eficientes para aplicação em alimentos e fármacos

"Como o câncer continua a ser uma das maiores causas de morte no mundo atual, a procura de novos compostos com atividade anticancerígena mais potente continua a ser uma das preocupações dos cientistas em geral e do meu grupo de investigação em particular", diz Artur Silva, que também se preocupa com a sustentabilidade dos processos, e desenvolveu um reator ôhmico com ganhos em eficiência energética

Quando criança, o pequeno observador encantou-se com as transformações das coisas. Via sua mãe fazer sabão caseiro a partir de gordura de porco e acompanhava seu pai no processamento de resíduos de uva em apreciadas aguardentes. Chegou ao segundo grau e não podia chegar perto de um laboratório que se punha misturar produtos para conhecer suas reações. A paixão cresceu com o menino e transformou-se no modo de vida do professor e pesquisador de Química Orgânica, Artur Silva, da Universidade de Aveiro, em Portugal. 

Hoje sua preocupação maior está na área da saúde e segurança alimentar. Com seu grupo de pesquisadores, vêm estudando antioxidantes presentes na natureza com maior efeito anticancerígeno, e rotas para sintetizá-los, com aplicações nas indústrias alimentícia e farmacêutica. É sobre este tema que o Professor Silva fará conferência na 38ª. Reunião Anual da SBQ, em maio, em Água de Lindóia (SP). "O nosso trabalho tem como principal objetivo a preparação de alguns novos compostos para possível aplicação na indústria alimentar e farmacêutica e também o estabelecimento de novos métodos de prepara-los", explica. É um trabalho que coloca vários desafios, tanto do ponto de vista científico, quanto socioeconômico.

Artur Silva formou-se em físico-química em 1987, e obteve o doutorado em Química Orgânica em 1993, sempre em Aveiro, onde leciona desde 1987 e desde 2001 é professor catedrático. Publicou mais de 400 artigos e capítulos de livros e orienta dezenas de doutorandos e pós-doutorandos no Laboratório de Química Orgânica, da Unidade de Investigação Química Orgânica, Produtos Naturais e Alimentícios, da Universidade de Aveiro. 

O professor Artur Silva falou com o Boletim da SBQ: 

Sua apresentação diz respeito a novos tipos de compostos heterocíclicos para aplicação na indústria de alimentos e medicamentos. Quais as necessidades que suas pesquisas buscam suprir? 
Os polifenóis são compostos que ocorrem abundantemente no reino vegetal, desempenham importantes funções biológicas e apresentam importantes aplicações biológicas. É sabido que muitos destes compostos são importantes para a manutenção do bem estar do homem, podendo contribuir para o tratamento de algumas doenças. Assim, pretendemos preparar novos compostos com características estruturais específicas para poderem vir a serem usados na indústria alimentar como conservantes, devido à sua atividade antioxidante, e na indústria farmacêutica, para a produção de novos agentes antiinflamatórios e anticancerígenos, entre outros. 

Pretende-se encontrar estes novos tipos de compostos bioativos, com atividade reforçada e mais específica e com menos efeitos secundários, porque alguns dos antioxidantes atuais apresentam algum efeito cancerígeno. 

No caso dos compostos heterocíclicos contendo átomos de nitrogênio, pretende-se obter novos agentes antibióticos e antitumorais, uma vez que alguns destes compostos são usados como antibióticos de largo espectro. Contudo, devido às resistências das bactérias aos antibióticos atuais, temos a necessidade de encontrar novos compostos com atividade antibiótica mais forte e específica. 

Como o câncer continua a ser uma das maiores causa de morte no mundo atual, a procura de novos compostos com atividade anticancerígena mais potente continua a ser uma das preocupações dos cientistas em geral e do meu grupo de investigação em particular. 

Quais são os principais desafios encontrados no processo? 
Uma das nossas preocupações é a descoberta de novos métodos de preparar os compostos que queremos em bons rendimentos. Outro desafio é o estabelecimento de novos métodos de síntese ambientalmente sustentáveis, ou seja fazendo as reações sem solventes orgânicos ou usando muito pouca quantidade, ou usando água como solvente, e procurando usar a menor quantidade de energia possível. Neste sentido, temos usado fontes de energia alternativa, como as microondas e um reator de aquecimento óhmico, que recentemente desenvolvemos em Aveiro. Neste último caso, o protótipo (foto acima) ainda está sendo estudado. Queremos estender sua aplicação a um grande número de transformações químicas (síntese orgânica e inorgânica). 

Nos últimos anos temos tentado preparar alguns compostos de forma estereosselectiva usando pequenas moléculas orgânicas como catalisadores (organocatalisadores), em vez dos bem conhecidos metais de transição. 

Em quanto tempo estes novos compostos podem chegar ao mercado? 
Este é assunto mais sensível. Alguns dos nossos compostos foram objeto de patente, porque apresentam uma atividade antioxidante e antiinflamatória potente. Contudo, a sua síntese em larga escala e a possível comercialização depende do interesse das indústrias farmacêuticas. 

Por que os jovens devem estudar Química? 
A Química está em tudo o que fazemos, em tudo o que vestimos, nos medicamentos que tomamos, nos conservantes dos alimentos e também nos materiais usados na construção de carros, aviões, etc. No mundo atual a imagem da Química não é muito positiva, contudo se as pessoas meditarem bem, perceberão que sem a Química as condições de vida e bem estar do Homem e da Humanidade não seriam as que temos atualmente. Ou seja, os jovens devem estudar Química para compreenderem tudo o que os rodeia e para que um dia possam também contribuir para a melhoria das condições de vida na terra. 

Uma mensagem para comunidade química brasileira... 
O forte investimento do Brasil na formação da sua população, e na formação de químicos em particular virá a trazer frutos no futuro, tendo em conta os desafios da sociedade atual em termos de saúde (envelhecimento e resistência a medicamentos) e energia.

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“New synthetic methods for 2,3-diarylacridin-9(10H)-one and (E)-2-aryl-4-styrylfuro[3,2-c]quinoline derivatives”, V. L. M. Silva, A. M. S. Silva, Tetrahedron201470, 5310−5320.

“Ohmic heating as a new efficient process for organic synthesis in water”, J. Pinto, V. L. M. Silva, A. M. G. Silva, A. M. S. Silva, J. C. S. Costa, L. M. N. B. F. Santos, R. Enes, J. A. S. Cavaleiro, A. A. M. O. S. Vicente, J. A. C. Teixeira, Green Chemistry201315, 970−975. 

“Synthesis of Enantiopure 2-C-Glycosyl-3-nitrochromenes”, R. G. Soengas, H. Rodríguez-Solla, A. M. S. Silva, R. Llavona, F. A. A. Paz, Journal of Organic Chemistry201378, 12831−12836.

“Highly Enantioselective 1,4-Michael Additions of Nucleophiles to Unsaturated Aryl Ketones With Organocatalysts by Bifunctional Cinchona Alkaloids”, C. G. Oliva, A. M. S. Silva, D. I. S. P. Resende, F. A. A. Paz, J. A. S. Cavaleiro, European Journal of Organic Chemistry 2010, 3449−3458.

“Efficient Syntheses of New Polyhydroxylated 2,3-Diaryl-9H-xanthen-9-ones”, C.M.M. Santos, A.M.S. Silva, J.A.S. Cavaleiro, European Journal of Organic Chemistry 2009, 2642−2660. 

 

Para saber mais sobre o professor Artur Silva:

https://sites.google.com/site/artursilvaua/
http://www.ua.pt/qopna/Default.aspx

Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)