ANÁLISE DO IMPACTO DE PROGRAMA DE FORMAÇÃO CONTINUADA NA PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS PROFESSORES E NO DESEMPENHO DE SEUS ALUNOS

Penha Souza Silva (PG) e Eduardo Fleury Mortimer (PQ)

Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais


palavras-chave: formação continuada, prática pedagógica, avaliação de impacto


Este trabalho faz parte de um projeto de pesquisa desenvolvido junto a um grupo de professores participantes do Programa de Aperfeiçoamento e Formação Continuada de Professores de Química e Ciências de Minas Gerais - FoCo, o qual vem sendo desenvolvido na UFMG desde 1996.

O objetivo dessa pesquisa é avaliar o impacto do FoCo junto aos alunos dos professores participantes. Esses professores, durante dois anos, participaram do Programa de Formação Continuada e passaram a trabalhar com o material didático desenvolvido pelo FoCo (Introdução ao estudo da Química: propriedades dos materiais, reações químicas e teoria da matéria, coordenado por Eduardo F. Mortimer). Essa avaliação foi feita por meio da aplicação de 10 questões, selecionadas das provas de química de 1ª etapa dos vestibulares da UFMG nos últimos 5 anos, relacionadas aos conteúdos abordados no material didático. Esse procedimento tem por objetivo comparar o desempenho dos alunos com um grupo de controle constituído pelos candidatos aos concursos vestibulares (cerca de 40.000 alunos). Essa prova foi aplicada a 1170 alunos dos professores do FoCo, de escolas particulares do curso diurno e de escolas públicas dos cursos diurno e noturno. Além disso, procuramos entrevistar os professores com o objetivo de detectar que variáveis estariam contribuindo para as diferenças de desempenho dos alunos dentro do próprio grupo de professores participantes do FoCo.

Os professores que participaram dessa pesquisa estão envolvidos com o Programa de formas diferenciadas: as professoras 1, 2 e 3 atuaram como coordenadoras de turmas do FoCo; o(a)s professore(a)s 4, 5, 6, 7, 8 e 9 fizeram parte do processo de formação durante dois anos e professor 10 não passou por esse processo de formação continuada.

Para avaliar o desempenho dos alunos, e consequentemente a eficácia do projeto, os resultados obtidos nas provas foram comparados com os dos candidatos ao concurso vestibular. A UFMG faz um levantamento do desempenho, por questão, dos candidatos ao seu vestibular, sendo possível comparar o desempenho dos nossos alunos com o resultado de uma amostra de cerca de 40.000 alunos. Fizemos essa comparação levando em consideração o desempenho do total de alunos da nossa amostra e também o desempenho para cada professor separadamente. Também tentamos encontrar variáveis que justifiquem diferenças de desempenho dentro do próprio grupo de professores pesquisados. Além disso, foram comparados também os resultados entre as turmas de um mesmo professor.

Com o objetivo de fazer a análise das variáveis, no início do projeto, todos os professores responderam a um questionário sócio-econômico-cultural e ainda fizeram uma atividade onde descreviam os tipos de aula que ministravam. Além disso, os professores pesquisados foram entrevistados no final do segundo ano de funcionamento do Programa de Formação Continuada. Nessa entrevista, procuramos levantar as concepções dos professores sobre ensino, aprendizagem, ciência e conhecimento, de modo a caracterizar de maneira aproximada as mudanças que o professor teria implementado em sua prática de sala de aula a partir da vivência no FoCo. A partir desse conjunto de dados foi possível realizar um levantamento das variáveis que estariam colaborando para aumentar ou diminuir a diferença entre o desempenho dos alunos dos professores que passaram pelo programa de formação continuada e utilizam o material didático e os do grupo controle, e assim fazer uma avaliação inicial do impacto do programa e do material didático no desempenho dos alunos.

Através da análise das entrevistas, foi possível perceber a existência de dois grandes grupos entre os professores pesquisados: 1) aqueles que mudaram apenas alguns aspectos de suas práticas pedagógicas, mantendo inalteradas várias características da prática anterior, por exemplo, o predomínio de aulas expositivas; 2) aqueles que mudaram substancialmente suas práticas pedagógicas, incorporando vários tipos de atividades discutidas no Programa de Formação Continuada e buscando usar o material didático do FoCo de acordo com as concepções que nortearam seu desenvolvimento. Isso não significa que as práticas dos professores sejam absolutamente homogêneas dentro de cada um dos grupos. Cada professor tende a assimilar as inovações que vivencia no Programa de forma diferenciada, o que pode estar relacionado às suas experiências anteriores, à sua formação inicial e à sua trajetória profissional.

Em geral, considerando o resultado do conjunto das 10 questões, percebe-se um melhor desempenho dos alunos dos professores pesquisados em relação aos candidatos ao concurso vestibular da UFMG. Além disso, percebe-se um melhor desempenho dos alunos do grupo 2 de professores, quando comparado aos alunos do grupo 1.

A análise das questões em que essa tendência geral - melhor desempenho dos alunos dos professores do FoCo - não se manifesta, permite uma avaliação do próprio material, no sentido de aperfeiçoar as atividades do material didático relacionadas aos tópicos onde se observa esse pior desempenho.

Esses resultados contribuem para avaliar o alcance do trabalho realizado no Programa de Formação Continuada e rever algumas atividades aí desenvolvidas e alguns aspectos da metodologia de trabalho. Além disso, com esse tipo de pesquisa contribui-se para diminuir a resistência de professores à inovação pedagógica, que na maioria dos casos é justificada pelo temor de que novas práticas de sala de aula não contribuam ou mesmo impeçam um bom desempenho dos alunos no vestibular. É importante ressaltar que os concursos vestibulares das universidades brasileiras não são homogêneos, mas observa-se uma tendência, nas grandes universidades públicas, de valorizar certos tipos de habilidades que os materiais didáticos alternativos também contemplam.

CNPq, Fundo Fundep da UFMG