A Sociedade Brasileira de Química teve uma predecessora homônima, fundada em 1922, sediada no Rio de Janeiro e que existiu até 1951. Realizou congressos e publicou entre 1929 e 1951 a revista Revista Brasileira de Chimica e sua sucessora, a Revista da Sociedade Brasileira de Química. A vinheta mostrada na reprodução foi publicada no número de dezembro de 1931.
Fundação. A atual Sociedade Brasileira de Química foi fundada em 1977, durante a Reunião Anual da SBPC, por químicos dedicados à pesquisa e ensino em universidades e institutos oficiais, liderados por Simão Mathias, Jacques Danon e Ricardo Ferreira.
Sua criação foi um dos muitos movimentos de organização da sociedade civil brasileira, em oposição ao regime militar iniciado em 1964. A SBPC exercia um papel importante na crítica e oposição ao regime e nas suas reuniões anuais ocorriam grandes debates, com repercussão nacional.
Vários dos fundadores eram afiliados à SBPC e também à Associação Brasileira de Química, ABQ. Insatisfeitos com a atuação da ABQ, decidiram fundar uma nova SBQ para que os cientistas brasileiros atuando em Química e áreas afins fossem representados com vigor nos fóruns científicos e de política científica e desenvolvimento.
Os primeiros anos. A SBQ cresceu rapidamente, mobilizando químicos de todo o País nas suas reuniões anuais, realizadas como parte das RAs da SBPC. Vários fatores contribuíram para isso, que podem ser resumidos em um só: ela conseguiu reunir cientistas, professores e estudantes satisfazendo suas necessidades de expressão e de debate científico e político, em alto nível.
Um marco inicial foi a criação da Química Nova, uma revista com características muito próprias mas adequadas ao seu público. Desde então, a revista tem publicado matérias memoráveis que registram e difundem ciência de fronteira, enriquecem as fontes de conhecimento acessíveis a professores e alunos e debatem questões de interesse amplo.
A SBQ logo assumiu um papel de interlocução com autoridades responsáveis pelas políticas de desenvolvimento científico e tecnológico do País, que foi exercido visando o bem comum. Um dos exemplos dessa atuação foi a participação crítica mas positiva no PADCT, superando antigas e anacrônicas barreiras entre professores universitários e profissionais de empresas, funcionários de governo, químicos e engenheiros químicos. Esse programa contribuiu para um grande surto de crescimento da Química brasileira, em todos os seus aspectos e formas de atuação.
Mais de quarenta anos depois. Superados os riscos do nascimento e primeira infância, a SBQ cresceu continuamente durante mais de quatro décadas, agregando e incluindo pessoas de perfis e interesses diferentes, mas sempre focalizando o interesse nacional, a qualidade científica e a formação de recursos humanos de alto nível para o ensino, pesquisa e prática profissional da Química, e áreas correlatas. Os quarenta anos da fundação da SBQ foram celebrados realizando um grande evento global, o Congresso Mundial de Química, da IUPAC. Alguns dos nomes mais notáveis da Química vieram ao Brasil e interagiram com centenas de jovens, dando autógrafos, tirando fotografias e trocando ideias. Essa também foi mais uma ocasião de estreitamento de laços da academia com profissionais da Química, pois um dos simpósios foi a reunião anual da Comissão de Tecnologia da Associação Brasileira da Indústria Química, a Abiquim.
O Congresso da IUPAC também expôs os riscos, dores e problemas que surgem com a maturidade, sendo seguido de várias mudanças na condução da SBQ e nas formas de participação dos sócios. O resultado foi muito positivo: mesmo sendo chamado a contribuir mais e a receber menos benesses, o quadro de sócios cresceu, respondendo positivamente.
As crises brasileiras iniciadas em 2014, os erros acumulados na condução da Ciência e Tecnologia brasileiras e a pandemia nos obrigam hoje a trabalhar na construção de saídas. A Química é hoje abalada por convulsões regionais, nacionais e globais, tal como qualquer outra atividade humana. Mais do que nunca, precisamos de toda a coragem, energia, inspiração e fé que conseguirmos reunir, para agirmos como nunca o fizemos. E como no passado, a SBQ deve continuar praticando política, sempre aquela que Aristóteles definiu como “A Arte do Bem Comum”.
Fernando Galembeck
Presidente da SBQ por dois mandatos (janeiro de 1981 a maio de 1982, junho de 1982 a maio de 1984)
Vice-Presidente da SBQ (junho a dezembro de 1980)
Membro do Conselho Consultivo da SBQ por oito mandatos (1984–1986, 1992–1994, 2008–2020)
Abril de 2021.
Para saber mais,
– leia o editorial de estreia de Química Nova, em 1978, por Eduardo M. A. Peixoto;
– leia o artigo de Etelvino J. H. Bechara e Hans Viertler, publicado na Química Nova, em 1997;
– assista ao documentário SBQ: Uma Visão Histórica, lançado em 2013.